terça-feira, 23 de outubro de 2007

O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, 2006


Assim como já foi dito em um post anterior, a qualidade dos filmes nacionais está inteiramente a par com qualquer país do mundo. Hoje em dia, dizer que filme brasileiro é inferior a qualquer outro, é pura ingenuidade. O escolhido do ano para tentar uma vaga no Oscar 2008 é um grande exemplo disso. O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias é revigorante. Uma trama alegre mas que esconde um fundo bem triste. Disparidades difíceis de se fazer com eficácia, mas que o diretor Cao Hamburger o faz e prova ao mundo que o cinema brasileiro não se restringe apenas à Cidade de Deus.

[SINOPSE] Em 1970 o Brasil e o mundo pareciam virar de cabeça para baixo, mas a maior preocupação na vida de Mauro, 12 anos de idade, tinha pouco ou nada a ver com a proliferação das ditaduras militares na América do Sul ou com a Guerra do Vietnã. Seu maior sonho era ver o Brasil tri-campeão do mundo. Mauro se encontra naquele momento de transição da infância para a adolescência. É nesse ponto de virada que ele se vê obrigado a viver longe dos pais quando, por serem de esquerda, são forçados a viver na clandestinidade e deixá-lo com o avô. Mas algo inesperado sucede com seu avô. E o garoto fica sozinho sem poder avisar os pais. Quem acaba tomando conta de Mauro é Shlomo, o vizinho do avô, um velho judeu solitário, funcionário da Sinagoga. Essa convivência inesperada resulta, para ambos, num mergulho em mundos desconhecidos do qual emergem, cada um à sua maneira, bastante amadurecidos.Enquanto espera um telefonema dos pais, Mauro aprende a encarar uma realidade muitas vezes difícil e dolorosa, mas que tem seus momentos de alegria e descoberta. Ele se vê sozinho e repete assim, de certo modo, a saga de seus avós - imigrantes judeus - sobrevivendo num mundo novo. A partir daí, entram na vida de Mauro, além de Shlomo, o zelador da sinagoga com quem é obrigado a morar; a irreverente Hanna, pouco mais velha do que Mauro, com seu enorme talento para apostas e novos negócios; a jovem Irene, que incendeia a imaginação de todos os garotos do bairro; o Rabino, um fanático torcedor do Corinthians; Ítalo, filho de italiano envolvido em movimentos estudantis, Edgar, goleiro mulato do time do bairro, entre outros. Com seus novos amigos, Mauro divide, entre muitas outras coisas, sua paixão pelo futebol, as primeiras descobertas da sexualidade e seu desejo de recuperar a felicidade sufocada pela ditadura.

O roteiro, feito e revisado por 4 roteiristas, é belamente montado e inteligente. A utilização da paixão do menino Mauro pelo futebol e a adoção da Copa de 70 como fundo tema, foi espertamente cabível, logo que o alegre momento é ofuscado pela repressão da ditadura. Vê-se que esta era a intenção dos roteiristas e do diretor Cao, já que em diversos momentos, Mauro torce para o Brasil e em outros torce para que seus pais cheguem em seu fusca azul.

Aliás, a escolha de Michel Joelsas para o papel do menino foi um grande acerto. Com caras e bocas certas, Michel consegue conquistar o publico pela doçura e pela boa interpretação. Assim como a menina Daniela Piepszyk, que interpretada a geniosa Hanna, que a cada aparição, rouba a cena de uma forma talentosa. O filme é recheado de boas atuações, e surpreendentemente as melhores são de atores desconhecidos, como Germano Haiut, intérprete do excêntrico judeu Shlomo. Até uma breve, mas interessante, participação de Paulo Altran há na película.

Cao Hamburger merece todos os créditos do longa. Com este filme, o diretor prova sua facilidade e sua qualidade em trabalhar com crianças em filmes. Tendo um tema forte como a ditadura, Cao consegue suavizar com rostos infantis um tema histórico tão triste. Seu mérito se estende desde à escolha de músicas brasileiras na trilha sonora até as locações paulistas atuais mas que mantém o cenário de décadas atrás. Genial. Mesmo tendo acertado na escolha de Michel, acho que seria válido a escolha de um ator mirim com mais cara de brasileiro, mas é um detalhe.

O Ano... não tem grandes chances de entrar na disputa de melhor filme estrangeiro no Oscar. Mas tem mais chances do que teria Tropa de Elite, isso sem dúvida. O filme já tem em dvd, mas os cinemas brasileiros voltaram a exibi-lo, por isso, não percam. É o segundo melhor filme brasileiro do ano.

Nota: 9.0

21 comentários:

Vitor Abreu disse...

Massa esse filme. ele vai ser o represetante do brasil no orcar , blog massa
parabens

MaxReinert disse...

Com certeza acho que o filme tem mais chances do que Tropa de Elite!

E, acho que, tem mais cinema nele!!!!

Karin Kollnberger disse...

Legal seu post. Tenho mesmo de assistir a esse filme. Cinema é cinema, não é o país de origem que determina a qualidade de um filme ou falta dela.

Beijo!

Henrike disse...

pooo ainda n vi esse filme mas deve ser muito bom
parabens pelo blogger

César Schuler disse...

poh,os cinemas voltaram a exibir?

que massa!
Vou ver :D

Bruna ♪ disse...

ótima postagem...
escolheu bem.

O filme é excelente e difere um pouco do que estamos acostumados a ver,
como Cidade de Deus, Carandiru e Tropa de Elite.
Pode nao ganhar o Oscar, mas a sua indicaçao já confirma o excelente trabalho de Cao Hamburger.

bjossss

Anônimo disse...

Muito Bom!!

Bem escrito, e deixa com vontade de ver o filme...

Ótimo Blog!

Anônimo disse...

Diego, eu sempre apreciei o Cinema Brasileiro, mesmo aquele dos anos 70 e 80, que muitos consideram toscos, mas que para mim, são muito bons. Essa nova safra de filmes nacionais, nada mais é do que a evolução natural daqueles filmes nacionais lá de trás, tão mal falados e injustiçados.
Um abraço!

www.ooohay.wordpress.com

Anônimo disse...

Não assisti ainda..mas depois dessa excelente crítica...vou procurar...

Danilo Moreira disse...

Já tinha ouvido falar desse filme (q eu ainda nao assisti...rs), mas o que me fez vibar mesmo é saber que Cao Hamburger está por trás da direção. Cara, eu sou MUITO fã dele. A maioria dos programas que fizeram a minha infancia (na TV Cultura de SP), foram obras dele, como o Castelo Ra Tim Bum.

Mais uma vez, uma excelente análise do filme, à altura ou até superior a um texto de uma revista especializada.

Abraços!!!!

Te convido agora, a conhecer um novo blog de uma amiga minha, que promete...rs

Flor de Lótus
http://ressurgircomolotus.blogspot.com/

Danilo Moreira disse...

Qdo tiver tempo eu com certeza vou assistir. Vlw pela visita.

O Antagonista disse...

Esse filme me interessou muito desde que li pela primeira vez sua sinopse... histórias divertidas com fatos históricos tristes como pano de fundo são sempre um bom ponto de partida para filmes emotivos e sensíveis (vide A Vida é Bela).

Quanto ao cinema nacional, é verdade, está mesmo muito melhor, inclusive tecnicamente falando. Perdemos o medo e o preconceito de fazermos filmes comerciais... agora sabemos que o business não tira da arte a capacidade de emocionar e de revolucionar.

Valeu.

Anônimo disse...

O filme parece ser bom, realmente o cinema brasileiro está cada vez melhor.

Anônimo disse...

Me abstenho de comentar este filme, pois ainda não assisti.

porém, continuo a afirmar que Tropa é o melhor filme brasileiro de todos os tempos.

Abraço, Dieguito! Confira a entrevista com o Borbs lá no Arroto!

lucaxxx disse...

cara, me desculpa mas eu discordo de vc em genero, numero e grau. Até escrevi sobre isso no meu blog. http://mylasttimeonearth.blogspot.com/2007/09/ningum-respeita-constituio-mas-todos.html

Acho que qualquer coisa sobre a ditadura é exacerbada. Bom, leia meu post e entenderá a minha opinião. Abraços

lucaxxx disse...

Caraca já escrevi esse recado aqui tres vezes errado rsss. O que eu ia dizer era isso:

Don't worry brother. Eu discordei de você e você tem todo o direito de discordar de mim. Imagina se todo mundo concordasse com todo mundo, que chato seria. Como você mesmo disse, o Ano foi feito pra concorrer em festivais e isso que me irrita, ou seja, o fato de o Brasil (ou brasileiros) achar que irão ganhar prêmios, quando mostram esse episodio da nossa historia. Vc lembra do "O que é isso companheiro", né? Tema super batido. Valew pela saudavel discussão. Abraços

12:58 PM

Arne Balbinotti disse...

Não assisti Tropa de Elite e não assisti esse também...
Não dá para discutir se não assistir, então eu vou ficar devendo um comentário melhor...
E você, Diego, qual me recomenda?
Abraços.

Anônimo disse...

Bom... Eu ainda não assisti esse filme, mas a vontade é tremenda... Mas por correrias do dia-a-dia, ainda não tive oportunidade...

Se for tão bom, como o texto aqui apresenado... Vale a pena assistir...

Abraço!

Climão Tahiti disse...

Discordo num aspecto de sua análise: "O Ano..." tem chances de levar a estatueta, sim.

Ele conta de temas que agradam aos caciques da academia: ditadura, sofrimento dos que a combatem, convívio entre um jovem e um idoso, cresce como jovem e homem.

E é um filme de temática melancólica, oq eu agrada ainda mais o povo que usa cachecol com calor de 40ºC. =D

Lidiana de Moraes disse...

Esse filme é maravilhoso! Um dos finais mais emocionantes que já vi!
Retrata uma época em que as pessoas sabiam pelo menos pelo que lutar e como, diferente do caso dos protestos na UFES!

Diego Moretto disse...

Sem dúvida que o filme é excelente, mas visto alguns filmes estrangeiros que foram para a disputa da vaga ao Oscar, não acho que o Ano tenha muitas chances. Mas se for indicado eu aplaudo de pé, pois Cao fez um trabalho fenomenal.
Bom, muito orbigado pelos comentários e voltem sempre!!!