sexta-feira, 30 de abril de 2010

Santos do pau-oco

Há três semanas, com intervalos variando entre horas e um dia, revelações de abusos sexuais cometidos por entidades eclesiáticas tem - novamente – chocado o mundo. Talvez 'chocado' não seja a palavra mais correta para se referir ao sentimento que tais absurdos provocam hoje em dia, até porque já vivemos em um mundo onde boa parte das pessoas já conseguem associar uma coisa a outra e, assim, relacionar que a pederastria vinda de senhores algozes da igreja católica não é motivo de surpresa alguma.

Provavelmente o motivo do estardalhaço tenha sido a associação de certos acusados à figura do papa Bento XVI, o que esta causando uma onda de repúdio ao mesmo, com protestos e comparações que vão de dizeres como “pédofilo!” à associações com figuras de tiranos como Hitler. Não é para tanto, mas existe sim profundidade nisso. Até porque, infelizmente, foram poucos os movimentos que protestaram contra este enxame de casos de pedofilia dos últimos dias.

O que mais incomoda nisso tudo, tirando a escrotidão dos casos, é a indiferença com que o assunto é tratado pelas autoridades e pela Igreja Católica. O papa se pronunciou e pediu desculpas pela vergonha causada por seus discipulos, e ponto final. É só isso?

A vida desgraçada das várias crianças molestadas é reparada apenas com um perdão? Não existe punição quando o feitor das atrocidades são figuras eclesiáticas? Não, pelo visto, é melhor culpar os homoafetivos, já que foi isso que aconteceu no auge da ignorância religiosa, quando uma entidade católica qualquer negou que casos de pedofilia estivessem ligados com o celibato católico e acrescentou que, “segundo especialistas” a pedofilia estaria ligada ao homossexualismo. Realmente é muita podridão que acontece nas entrelinhas. Conseguiram fazer com que o episódio já sujo se transformasse em um injusto marketing homofóbico.

Até quando irá se tolerar estes abusos? Quantas crianças precisarão ter suas vidas destruídas por demônios nojentos para que se tome uma atitude de verdade? Onde estão os Direitos Humanos nestas horas? Será mesmo que a Igreja Catolica é uma entidade tão intocável assim que não se pode abrir inquéritos para averiguar estes casos, com condenações e prisões, assim como é feito com todas as outras pessoas? Ou vamos esperar que tragédias como a da escola para crianças surdas em Wisconsin, ou do macabro caso do reverendo Stephen Kiesle, se repitam?

Com tantos abusos assim ocorrendo duas questões pairam no ar (além das várias outras ocultas): será mesmo necessário manter ainda esta hipócrita proteção judiciária à esses criminosos religiosos? E outra: não estaria na hora de se impor medidas para que exista um tipo de fiscalização nas igrejas, nestas relações entre padres e coroinhas, ou em internatos religiosos, seminários e afins? Com acompanhamentos psicológicos e sociais profissionais, para que essa crueldade arcaica caminhe para o fim e estes monstros de batina apodreçam de uma vez por todas no inferno das prisões. Amém.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O dia D-esgraça

Desgraça, entre alguns sinônimos gramaticais oriundos de um dicionário, estão: “o que falta graça”, “o que não é belo” e “algo muito ruim”. Logo, nada mais real do que economizar palavras para definir o caos em que se encontrava a cidade do Rio de Janeiro ontem. Centenas de ônibus fretados se espremiam entre o centro e o aterro do Flamengo. O trânsito engarrafado – quando não, parado- eclodiava até meados da Lagoa, ou seja, praticamente cinco bairros infestados por caravanas e afins, que tinham por intuito conferir a presepada da Igreja Universal intitulada de “O Dia D”.

Mais bonito ainda do que este começo infernal (ironia do destino) foi o final do evento, quando todos queriam sair de uma só vez, achando que a cidade estava fechada para eles. Nisso mais problemas surgiam: eram grupos e mais grupos com um líder e uma bandeira à procura do ônibus certo. Pessoas urinando nas ruas. Mães trocando fraldas nas calçadas alheias. Crianças berrando por algum motivo. Discussões calorosas de moradores inconformados com evangélicos indignados - com a audácia de tais moradores. Sem falar nos gritos, choros e assovios de certas evangélicas vestindo uns trajes sumários que poderiam muito bem ser confundidas com micareteiras. Isso tudo, sem mencionar o caótico trânsito, que ficou impossível até mais ou menos 23h.

E agora? O que falar ou fazer? Este evento aconteceu em praticamente o Brasil inteiro, mas não sei se foi tão aterrorizante quanto a versão carioca. Nesta manhã – com a praia de Botafogo imunda-, e sob a promessa de que eventos deste tipo não ocorrerão mais na cidade, o prefeito Eduardo Paes assumiu a culpa pelos transtornos causados e pediu desculpas, sob a justificativa de que os representantes da Igreja Universal “calcularam” um montante de 100 mil fiéis para a festa – foram mais de um milhão.

Ao menos, Paes foi feliz no comunicado de hoje, mas quanto à promessa, qual tipo de evento não acontecerá mais na cidade? Ficou bastante vago o comentário, o que dá margem para abusos, porque este “dia D” foi um verdadeiro abuso à paciência e a boa vontade dos cariocas. Enquanto o poder de liberações ficar a mercê de poucos influenciáveis, acontecimentos chatos como este, se repetirão outras vezes mais. O que falta é planejamento e imposição de limitações. E outra: já que o “público esperado” foi multiplicado por dez, seria prudente uma bela multa, pois se o evento foi gigantesco, sem dúvida alguma também foi bastante lucrativo, se tratando da empresa responsável.

Por sorte, na próxima sexta também é feriado no Rio de Janeiro, o que significa que os cariocas que se estressaram por conta do ocorrido poderão ter ao menos um dia de verdadeiro descanso, enquanto não acontece outra festinha milionária e egoísta como foi o “Dia D”. Amém.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sangrenta Deficiência Judiciária.

Da semana passada para cá, ficamos chocados com dois episódios distintos, mas que provam o quão deficiente é o sistema penal brasileiro.

O primeiro veio da idéia podre do apresentador Ratinho, do SBT, de entrevistar o assassino Guilherme de Pádua. Quanto à entrevista e a repercussão que isso deu, nada a dizer, até porquê a atitude é claramente ignorante e indignante. Mas fazendo um aprofundamento no caso Daniella Perez, ficamos aterrorizados com a frieza e a falta de escrúpulos do sr. Pádua, um ser humano insignificante e psicopata que tentou, de todas as formas possíveis e incabíveis, ter sucesso algum dia. Assistindo entrevistas e lendo o laudo do crime, é impressionante o juiz da época condena-lo a apenas 19 anos em regime fechado, sendo que o mesmo foi solto em apenas 7 anos.

O outro caso é o do Adimar Jesus da Silva, que é o principal suspeito por assassinar seis jovens em Luziânia, Goiás. O acusado volta à prisão após cumprir uma curta pena por abuso sexual. Curta pena mesmo, porque foram apenas três anos e alguns meses de reclusão. É triste ver que no laudo psiquiátrico deste assassino encontra-se dizeres como “personalidade negativa” e “pontos de sadismo” - sadismo é o prazer sexual em ver o outro ser sofrer.

Para os milhares de brasileiros que não conhecem as leis profundamente – como eu -, ao ler certas coisas ficamos na pensativa, o que há então? Como realmente funciona a justiça brasileira? Será que laudos médicos como este não são suficientes para que certos presos recebam acompanhamentos e que “bom-comportamento” não seja o único motivo pelo qual se pode liberar um presidiário bem antes de cumprir a pena?

No caso de Guilherme de Pádua, tudo pareceu um jogo inteligentíssimo que muitos crápulas usam, hoje em dia, para parecerem bons condutores e poderem, assim, mostrarem estar aptos para voltar à sociedade. O jogo em questão é brincar com a fé, é se tornar pastor depois de ser traficante, estuprador, assassino e afins. Isso ficou bastante claro na entrevista de Pádua ao Ratinho. Ao meu ver, a técnica é a mesma de certos pastores ex-gays e ex-travestis, que achou um negócio lucrativo e por isso utilizam da falsa fé e do falso testemunho para enganar menos favorecidos. Por isso, enquanto esperamos uma resposta do supremo, igrejas são bombardeadas por pastores de araques que apenas querem lucrar com o sofrimento que causaram.

Assim, com o cheque devidamente assinado, surge a dúvida: porque não uma lenta mas eficaz reformulação da legislação judiciária? Não passamos da hora de adotar a prisão perpétua? Até quando veremos assassinos como o casal que matou cruelmente a menina Isabella serem libertados bem antes da decisão final por “bom comportamento”? Até quando seremos obrigados a ver assassinos como o do menino João Hélio, serem libertados um a um por falhas na lei? E o que a justiça diz à doméstica agredida fisicamente - e com seqüelas que a impossibilitam de trabalhar – por jovens ricos e que hoje se encontram todos em liberdade? Ou aos casos já mencionados?

Assim, apenas pedimos: chega de brechas! necessitamos de uma resposta já, pois esta brincadeira de prender bandidos é bastante séria e já está bastante comprometida pelo arcaico sistema que o envolve.

terça-feira, 6 de abril de 2010

A Grande Questão

Você paga meia-entrada? Se sim, acha justo isso? Se a resposta ainda for sim, pergunto-lhe: você assiste a um espetáculo inteiro ou apenas metade dele? E mesmo assim você acha justo pagar meia? Esta discussão é a que prevalece atualmente na justiça, colocando em embate a classe artística e o governo.

Afinal, é certo a classe ser obrigada a dar meia-entrada para muitos, sem receber subsídios algum do governo? Esta é a grande questão, pois o jogo publicitário de pequenas mídias governamentais faz tudo parecer uma cobiça cega das pessoas que trabalham e vivem da arte. Para muitos leigos, cidadãos normais, apreciadores de teatros, shows e cinemas, por exemplo, e que pagam meia-entrada mediante apresentação de carteirinha - original ou não - na porta da bilheteria, esta discussão é infundada e inacreditável, pois tais artistas são pessoas que gostam de usufruir da boa vida e não se contentam com o que ganham.

Essa, é a visão que é passada a nós, os cidadãos leigos e consumidores. Nas entrelinhas, temos custos altíssimos, desde a montagem de espetáculos até a compra de material para se exibir um filme no cinema, valor este que é pago de uma única forma, sem divisão ou descontos por se tratar de arte.

O governo brasileiro exige que espetáculos possuam meia-entrada sem ao menos subsidiar o custo que isso acarreta para a produção. A discussão não é a retirada desta lei, e sim o investimento nela, a criação de um fundo para que os custos sejam relativos aos gastos, e que ninguém saia perdendo.

É por este motivo que temos grandes problemas em nosso país com grandes shows internacionais que demoram ou não passam por aqui, ou grandes produções de teatro que não vão para frente devido à falta de verba, ou filmes geniais que são feitos nas coxas, entre vários outros exemplos.

As leis de incentivos são apenas direcionadas a grandes espetáculos teatrais, descartando o teatro de raiz, o mambembe, que destoa de história neste país.

Repetindo, o que a classe artística, ou a produção executiva destes espetáculos quer, é que o governo não pense que gastar 800 milhões no Ministério da Pesca é o mesmo do que gastar 70 milhões no Ministério da Cultura. É fazer com que as leis funcionem. Que estudantes, idosos e afins exerçam seus direitos de poder fazer parte deste mundo cultural, até então limitado e elitista, sem causar déficit para o espetáculo.

Não é um grande problema, mas é mascarado porque aqui ainda temos problema em reconhecer a arte como de grande importância para um povo. O grau de avanço de uma determinada população é medida de acordo com o nível cultural que prevalece nela. Não é a toa que recebemos muitos subsídios internacionais para que grandes espetáculos, cinematográficos e teatrais, aconteçam da forma que deve acontecer. Nós, brasileiros, somos bastante reconhecidos por nossa cultura lá fora, ano a ano recebemos prêmios e indicações por infinitas atividades culturais, o problema é que não damos o valor, ou não podemos pagar o valor.

É nisso que entra a questão: de quem é a culpa? O que fazer para reverter isso? Os problemas já foram apontados e as possíveis e fáceis resoluções também, mas tudo pode ser resumido em uma única palavra: seriedade. É disso que nossos governantes precisam, apenas disso.