segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Os 10 melhores álbuns de 2012

Passado o susto do possível cancelamento do blog pelo Google, há exatamente um ano atrás - por eu ter cedido em minha lista do ano, downloads -, volto com a minha lista anual, de cunho totalmente pessoal e fruto de um trabalho intenso, já que, na música, 2012 foi um excelente ano.

Grandes nomes, grandes estreias e surpresas ficaram de fora desta lista. Desde novatos como John Talabot, Jessie Ware e Jake Bugg até nomes já consagrados como Bob Dylan, Norah Jones e os Crystal Castles fizeram bonito neste ano, mas estes abaixo foram destaques - então #ficaadica. Confiram o porquê:



1. An Awesome Wave – Alt-J

A viagem alucinante proposta pela estreia do Alt-J consome desde a primeira audição. As transições de harmonias, com coros de solos de vozes e instrumentação, faz todo este quebra-cabeça pop art se transformar com precisão em canções sólidas, flertando com o prog rock sem se tornar pretensioso ou cafona. As letras são a fórmula secreta para que a viagem funcione mesmo como uma fantasia. Este exagero entrega descobertas a cada audição, com personagens e bordões com intuito único de divertir e deixar tudo na mais perfeita ficção.


2. Visions - Grimes

A inquieta canadense Claire Boucher, aka Grimes, surpreende na colcha de retalhos eletrônicos criados a partir de Visions, seu ultimo trabalho. O lo-fi ambiente, por vezes sombrio e demasiado experimental de seus discos anteriores, é esticado a um eletro-pop puramente minimalista e industrial -  o que entrega uma devoção aos reis do Kraftwerk -, datado com extremismos, com espectros e sons mediáveis. Os primeiros singles do disco, Oblivion e Gênesis, são pretensiosos na busca por um novo pop, mas mostram um bom ouvido de Boucher para melodias e sabedoria para transitar pelo indie e pelo mainstream sem se tornar prepotente.



 3. Channel Orange - Frank Ocean

É na tristeza de seu diário aberto que Frank Ocean faz a sua estrela brilhar mais forte. Grande produtor, Ocean agora mostra maior talento nas composições e trilha um caminho para ser um astro consagrado de R&B. Foi a sua sexualidade que despertou a atenção da mídia, bem vinda pelo fato da atenção maior dada a sua obra-prima, mas foram as suas angústias e dúvidas que emolduraram toda a riqueza de Channel Orange. Esses sentimentos são apontadas com cuidado e esmero pelo jovem influenciado por grandes nomes como Prince e Pharrel, guiando colaboradores especiais e entregando um épico de dez minutos, “Pyramids”, que coroa de vez o triunfante álbum, corajoso e bastante funky, satisfazendo uma necessidade que não sabíamos que tínhamos. 


4. Good Kid, M.A.A.D. City – Kendrick Lamar

Encontrar  um poeta de rua jovem e deslumbrante nos tempos de hoje, é como achar uma mina. É quase inimaginável que Lamar tenha escrito todas as suas letras. São autorais, histórias de como é crescer nas ruas, a violência, a estupidez daqueles que se julgam melhores do que os outros. É amargo e dito nitidamente por alguém que vive diariamente essa realidade, com esperança de que tudo irá melhorar. E melhorou. Comparações com a verdade de Tupac ou o calibre harmônico do Nas são inevitáveis. Catapultado para o time dos grandes, Kendrick Lamar parecer ter muita coisa a dizer ainda, mas que o sucesso do artista não tire o brilho da realidade que percorre sua mente.


5. Blunderbuss – Jack White

O primeiro disco solo da carreira de Jack White é uma coroa de flores no túmulo da esperança dos que acreditavam em uma provável volta do White Stripes. As influências e referências nítidas e nada arrogantes e que eram antes, separadas nos outros projetos do músico, agora concentram-se em 13 faixas livres e com apenas um comando, puramente e para sempre Jack White.



6. In Your Heads – Hot Chip

Do reinado ao limbo, o Hot Chip já experimentou de tudo nestes quase oito anos desde o seu bom debut. Mas é sabendo dosar que temos aqui um dos melhores discos de sua carreira. Agora o flerte com o pop já não é mais preconceito para a banda e canções despretensiosas e mais maduras colocarão seu nome nos grandes estádios. Não tem como não ficar mexido com o swing de Don’t Deny Your Heart e muito menos com a genialidade harmônica e hipnótica de Flutes, hino pop indie que é de longe a melhor gravação do ano.


7. Coexist – XX

Após fazer com que um mundo caótico prestasse atenção em seus barulinhos minimalistas, o XX foi coroado como a cereja do bolo dos indies. Com isso, a espera por Coexist foi inquietante e o vazamento do disco foi rodeado por críticas sumárias, de primeiras audições. Foram acusados de se repetirem, mas como lançar algo radical quando se faz um som minimal? O avanço na sonoridade existe e não é entregue de prima. As percussões são mais risíveis, Romy e Oliver dançam com suas vozes e entregam uma parceria de ouro. Os sintetizadores e a guitarra única do Jamie XX estão lá, cada vez mais geniais. E com isso tudo, se a fórmula foi repetida é o de menos. Novamente uma outra dimensão foi aberta pelos XX, nosso trabalho é apenas imergir e desfrutar. 


8. Given to Wild – The Maccabees

O The Maccabees sempre foi uma banda respeitada mas nunca foram taxados de extraordinários. O amadurecimento parece que veio a galope para o quinteto e o resultado é entregue no melhor disco da carreira da banda. Os assuntos agora são sérios, papo de adulto, e os músicos trabalham como se fossem profissionais com muitos anos de experiência, distinguindo a verdade sólida da idade de cada um dos integrantes. As canções são mais encorpadas, com camadas de guitarras translúcidas e enfurecidas sobrepondo as lamentações melancólicas e quase bucólicas cantadas lindamente por Orlando Weeks. Par a par com o vocal, os instrumentos ganham vida no disco e mostram que os caras do Maccabees são ambiciosos e já estão no caminho para conquistar o mundo. 


9. Blues Funeral – Mark Lanegan Band

A segunda parte do seu romance tenebroso, iniciada sete anos atrás, conta com ilustres colaborações, mas é a versatilidade do seu narrador como músico que deixa este velório especial. A briga de suaves sintetizadores com distorções pesadas e enfurecidas das guitarras, mapeiam o clima aterrorizador da voz de Lanegan, em hinos lúgubres e cada vez mais belos.


10. Return to Paradise – Sam Sparro

O flerte com o dance não é de hoje, mas é com Return to Paradise que Sam Sparro se volta a era de Ouro sem se esquecer do futuro. O eletro soul australiano namora o funky e o soul de forma rica e lidera toda viagem saudosista com festa. A insistência no flerte com a década setentista soa pesada, mas é irresistível o guia musical formado durante todo o disco: são décadas se encontrando, colonizador com sua colônia primária, festejando a linha tênue que liga esses mundos: a boa música pop.