Passado o susto do possível cancelamento do blog pelo Google, há exatamente um ano atrás - por eu ter cedido em minha lista do ano, downloads -, volto com a minha lista anual, de cunho totalmente pessoal e fruto de um trabalho intenso, já que, na música, 2012 foi um excelente ano.
Grandes nomes, grandes estreias e surpresas ficaram de fora desta lista. Desde novatos como John Talabot, Jessie Ware e Jake Bugg até nomes já consagrados como Bob Dylan, Norah Jones e os Crystal Castles fizeram bonito neste ano, mas estes abaixo foram destaques - então #ficaadica. Confiram o porquê:
1. An Awesome Wave – Alt-J
A viagem alucinante proposta pela estreia do Alt-J consome
desde a primeira audição. As transições de harmonias, com coros de solos de vozes
e instrumentação, faz todo este quebra-cabeça pop art se transformar com
precisão em canções sólidas, flertando com o prog rock sem se tornar pretensioso
ou cafona. As letras são a fórmula
secreta para que a viagem funcione mesmo como uma fantasia. Este exagero
entrega descobertas a cada audição, com personagens e bordões com intuito
único de divertir e deixar tudo na mais perfeita ficção.
2. Visions - Grimes
A inquieta canadense Claire Boucher, aka Grimes, surpreende
na colcha de retalhos eletrônicos criados a partir de Visions, seu ultimo
trabalho. O lo-fi ambiente, por vezes sombrio e demasiado experimental de seus
discos anteriores, é esticado a um eletro-pop puramente minimalista e
industrial - o que entrega uma devoção aos reis do Kraftwerk -, datado com extremismos, com espectros e sons mediáveis. Os primeiros singles do disco, Oblivion e
Gênesis, são pretensiosos na busca por um novo pop, mas mostram um bom ouvido
de Boucher para melodias e sabedoria para transitar pelo indie e pelo
mainstream sem se tornar prepotente.
3. Channel Orange - Frank Ocean
É na tristeza de seu diário aberto que Frank Ocean faz a
sua estrela brilhar mais forte. Grande produtor, Ocean agora mostra maior
talento nas composições e trilha um caminho para ser um astro consagrado de
R&B. Foi a sua sexualidade que despertou a atenção da mídia, bem vinda pelo
fato da atenção maior dada a sua obra-prima, mas foram as suas angústias e dúvidas que emolduraram toda a riqueza de Channel Orange. Esses sentimentos são apontadas
com cuidado e esmero pelo jovem influenciado por grandes nomes como Prince e
Pharrel, guiando colaboradores especiais e entregando um épico de dez
minutos, “Pyramids”, que coroa de vez o triunfante álbum, corajoso e bastante
funky, satisfazendo uma necessidade que não sabíamos que tínhamos.
4. Good Kid,
M.A.A.D. City – Kendrick Lamar
Encontrar um poeta de
rua jovem e deslumbrante nos tempos de hoje, é como achar uma mina. É quase inimaginável que Lamar tenha escrito todas as suas letras.
São autorais, histórias de como é crescer nas ruas, a violência, a estupidez daqueles
que se julgam melhores do que os outros. É amargo e dito nitidamente por alguém que vive diariamente essa realidade, com
esperança de que tudo irá melhorar. E melhorou. Comparações com a verdade de
Tupac ou o calibre harmônico do Nas são inevitáveis. Catapultado para o time
dos grandes, Kendrick Lamar parecer ter muita coisa a dizer ainda, mas que o
sucesso do artista não tire o brilho da realidade que percorre sua mente.
5. Blunderbuss – Jack White
O primeiro disco solo da carreira de Jack White é uma coroa
de flores no túmulo da esperança dos que acreditavam em uma provável volta do
White Stripes. As influências e referências nítidas e nada arrogantes e que eram antes, separadas
nos outros projetos do músico, agora concentram-se em 13 faixas livres e com
apenas um comando, puramente e para sempre Jack White.
6. In Your Heads – Hot Chip
Do reinado ao limbo, o Hot Chip já experimentou de tudo
nestes quase oito anos desde o seu bom debut. Mas é sabendo dosar que temos
aqui um dos melhores discos de sua carreira. Agora o flerte com o pop já não é
mais preconceito para a banda e canções despretensiosas e mais maduras
colocarão seu nome nos grandes estádios. Não tem como não ficar mexido com o
swing de Don’t Deny Your Heart e muito menos com a genialidade harmônica e
hipnótica de Flutes, hino pop indie que é de longe a melhor gravação do ano.
7. Coexist – XX
Após fazer com que um mundo caótico prestasse atenção em
seus barulinhos minimalistas, o XX foi coroado como a cereja do bolo dos
indies. Com isso, a espera por Coexist foi inquietante e o vazamento do disco foi
rodeado por críticas sumárias, de primeiras audições. Foram acusados de se
repetirem, mas como lançar algo radical quando se faz um som minimal? O avanço
na sonoridade existe e não é entregue de prima. As percussões são mais
risíveis, Romy e Oliver dançam com suas vozes e entregam uma parceria de ouro.
Os sintetizadores e a guitarra única do Jamie XX estão lá, cada vez mais
geniais. E com isso tudo, se a fórmula foi repetida é o de menos. Novamente uma
outra dimensão foi aberta pelos XX, nosso trabalho é apenas imergir e desfrutar.
8. Given to Wild – The Maccabees
O The Maccabees sempre foi uma banda respeitada mas nunca
foram taxados de extraordinários. O amadurecimento parece que veio a galope
para o quinteto e o resultado é entregue no melhor disco da carreira da banda.
Os assuntos agora são sérios, papo de adulto, e os músicos trabalham como se
fossem profissionais com muitos anos de experiência, distinguindo a verdade
sólida da idade de cada um dos integrantes. As canções são mais encorpadas, com
camadas de guitarras translúcidas e enfurecidas sobrepondo as lamentações
melancólicas e quase bucólicas cantadas lindamente por Orlando Weeks. Par a par
com o vocal, os instrumentos ganham vida no disco e mostram que os caras do
Maccabees são ambiciosos e já estão no caminho para conquistar o mundo.
9. Blues Funeral – Mark Lanegan Band
A segunda parte do seu romance tenebroso, iniciada sete anos
atrás, conta com ilustres colaborações, mas é a versatilidade do seu narrador
como músico que deixa este velório especial. A briga de suaves sintetizadores com
distorções pesadas e enfurecidas das guitarras, mapeiam o clima aterrorizador
da voz de Lanegan, em hinos lúgubres e cada vez mais belos.
10. Return to
Paradise – Sam Sparro
O flerte com o dance não é de hoje, mas é com Return to
Paradise que Sam Sparro se volta a era de Ouro sem se esquecer do futuro. O
eletro soul australiano namora o funky e o soul de forma rica e lidera toda
viagem saudosista com festa. A insistência no flerte com a década setentista
soa pesada, mas é irresistível o guia musical formado durante todo o disco: são
décadas se encontrando, colonizador com sua colônia primária, festejando a
linha tênue que liga esses mundos: a boa música pop.