segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Edição de 10 anosCreamfields Buenos Aires ultrapassa o espetacular

Há exatamente uma semana, o Autódromo Cidade, em Buenos Aires, em seus extensos 160 hectares, ficou pequeno diante as 50 mil pessoas presentes na edição de 10 anos do Creamfields da cidade portenha.

Com um line up diversificado e que procurava agradar à gregos e troianos, fomos presenteados com nomes como Calvin Harris, Paul van Dyk, Carls Cox e David Guetta.

Tudo funcionava conforme deveria: posto médico atencioso – com uma grata distribuição de água aos necessitados -, banheiros e bares bem distribuídos e localizados, segurança eficiente e uma vibe positiva que há muito não se vê no Brasil.

Em cada tenda/palco (foram seis), a visão era praticamente a mesma. Sorrisos vestidos de camisas com estampas legais, ou seminus, juntos, suados, cada com sua água, formando um mar lindo de se ver, sob o perfume da maconha no ar e uma energia que seria capaz de ascender Buenos Aires por inteiro caso houvesse algum blackout. Não houve brigas, não houve mortes, não houve desmaios. As pessoas procuravam se divertir, e foi assim até o fim do festival.

O imenso bar do energético Speed roubou a cena. Lá se concentrava o eletrônico roots, pesado, com nomes argentinos como Luis Nieva e Mina. Explosões circenses, cornetas, fogos... tudo fazia explodir dentro de você a sensação de estar em um paraíso. Uma grande sacada dos criadores e que fez total diferença no festival.

Dos DJs afora o headline, o grande destaque foi o inglês Sasha, presente na Cream Arena. O DJ/produtor comandou durante exatas duas horas um público devoto e que dançava conforme seu set. Foi incrível e para muitos, inesquecível.

David Guetta era a grande aposta desta edição do Creamfields. O DJ-estrela entra em palco saldando os argentinos, por trás o telão de leds perguntava “BsAs, are u ready?” em letras garrafais. Após isso, robôs-humanóides adentram ao show e Guetta brilha em uma performance onde a busca pelo pop é o objetivo principal. Singles como Sexy Bitch fazem o público cantar junto e vibrar em um ídolo. Guetta ainda arranca lágrimas tocando uma versão eletrônica-fúnebre de The Time of My Life.

Entretanto, isso tudo, pelo visto, não foi o suficiente. Com exatos 40 minutos de espera, Fatboy Slim adentra ao palco principal e de cara projeta no meio do palco um planeta desconhecido, o seu mundo, gigantesco e que rodava não-se-sabe-como lentamente enquanto seu set começava. Gritos explodiam na platéia e Slim parecia mandar um belo “cala a boca” intrínseco à Guetta, firmando-se como único rei desta vertente. As projeções desta nova turnê do Fatboy Slim são realmente de tirar o fôlego. Exatas, sem exageros e incrivelmente mágicas.

E assim, às 6 horas da manhã, sob lasers incríveis de despedida, a décima edição do Creamfields Buenos Aires se encerra com um gosto de quero mais. Muito bacana ver que na Argentina ainda não se perdeu o brilho de liberdade que um festival pode causar. Aqui no Brasil, infelizmente, perdemos. Agora é esperar o ano que vem e conferir novamente este, que é um dos melhores festivais de música eletrônica da América Latina – se não for o melhor.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland, 2010.)

Com um clássico literário do surrealismo, Tim Burton erra a mão em um presente feito exclusivamente para ele e transforma a sua versão cinematográfica de Alice no País das Maravilhas em um filme lisérgico mas previsível, com um bom resultado final, muito aquém de clássicos de Burton, mas muito acima da maioria dos filmes do gênero.

Reconhecido outrora como o “fabulista soturno”, Tim Burton parecia ter o mundo em suas mãos com a aventura vitoriana (e não-infantil) criada por Lewis Carroll e a tecnologia em 3D, o que se conclui que é um empreendimento positivo em todos os quesitos, raridade no mundo cinematográfico. Tentando mudar um roteiro quase imutável, Burton cria uma história infantil em que peca na falta de criatividade. Se tentou ser abusado ao colocar uma Alice adolescente e problemática que volta ao País das Maravilhas para resolver problemas causados pela Rainha Vermelha (antiga Rainha de Copas...), ficou confuso com os elementos necessários para se reviver a personagem e transformou tudo em uma junção do passado e do presente que não funciona. Assim, influências infantis e teens cinematográficas do momento, como Harry Potter, são investidas para transformar este em um blockbuster rentável para a Disney. Perde-se o poder vitoriano da história e se aposta na Alice como uma guerreira com uma armadura e uma espada na mão.

Mas acreditem, isso não faz do filme descartável. Pelo contrário, dirigido por quem foi e pela direção de arte que realmente é deslumbrante, estamos diante de um clássico. Apesar de muitos terem torcido o nariz para o exagero de Burton junto ao 3D, o que se presencia é um show cinematográfico que prima pela beleza e pela qualidade. São muitas cores, muitos túneis, muitos elementos sobrevoando e transformando tudo no verdadeiro mundo de Alice, no lugar onde o surrealismo e o inaceitável imperam e torna tudo maravilhoso. Burton faz um trabalho mágico aqui e que realmente impressiona.

A trilha sonora faz sua parte, mas sem impressionar. Em contrapartida, os efeitos sonoros são ótimos, e colocados nos momentos certos.

Outro saldo realmente positivo são as atuações. Helena Bonhan Carter é o climax do longa. Todas as cenas em que aparece ela impera soberana como a Rainha Vermelha, o que já não acontece com Anne Hathaway, que fica caricata como a Rainha Branca, fazendo a personagem forçar a barra, tornando-se apática e não-empolgante, lamentável. Johnny Depp, novamente funciona como um alter-ego de Burton, e leva tais características ao personagem, o que é sempre incrível e dispensa comentários. As expressões nas vozes de Michael Sheen (Coelho Branco) e Stephen Fry (Gato-Risonho) são bem competentes e dão o tom certo aos personagens, principalmente Fry, que realmente pegou o espírito da coisa. Infelizmente não temos uma Alice real. Aquela garotinha corajosa, mas ao mesmo tempo assustada com todos os acontecimentos (do desenho da Disney de décadas atrás), perde para uma adolescente problemática e com traumas por viver em uma sociedade que parece ser muito abaixo da sua inteligência feminina. Mia Wasikowska é carismática e esforçada, mas não convence no papel.

Assim, temos um fantástico mundo de entretenimento muito além do que Hollywood costuma oferecer, mas um pouco decepcionante se tratando do diretor que é. Mesmo assim, o filme é pura fantasia, e passa por vezes à um bom delírio. É mesmo mais um novo clássico de Burton, que poderia ser muito melhor, mas agrada aos olhos e aos bolsos dos que pagam por uma viagem fundamentalista e relaxante no Mundo das Maravilhas.

Nota: 8.0

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Santos do pau-oco

Há três semanas, com intervalos variando entre horas e um dia, revelações de abusos sexuais cometidos por entidades eclesiáticas tem - novamente – chocado o mundo. Talvez 'chocado' não seja a palavra mais correta para se referir ao sentimento que tais absurdos provocam hoje em dia, até porque já vivemos em um mundo onde boa parte das pessoas já conseguem associar uma coisa a outra e, assim, relacionar que a pederastria vinda de senhores algozes da igreja católica não é motivo de surpresa alguma.

Provavelmente o motivo do estardalhaço tenha sido a associação de certos acusados à figura do papa Bento XVI, o que esta causando uma onda de repúdio ao mesmo, com protestos e comparações que vão de dizeres como “pédofilo!” à associações com figuras de tiranos como Hitler. Não é para tanto, mas existe sim profundidade nisso. Até porque, infelizmente, foram poucos os movimentos que protestaram contra este enxame de casos de pedofilia dos últimos dias.

O que mais incomoda nisso tudo, tirando a escrotidão dos casos, é a indiferença com que o assunto é tratado pelas autoridades e pela Igreja Católica. O papa se pronunciou e pediu desculpas pela vergonha causada por seus discipulos, e ponto final. É só isso?

A vida desgraçada das várias crianças molestadas é reparada apenas com um perdão? Não existe punição quando o feitor das atrocidades são figuras eclesiáticas? Não, pelo visto, é melhor culpar os homoafetivos, já que foi isso que aconteceu no auge da ignorância religiosa, quando uma entidade católica qualquer negou que casos de pedofilia estivessem ligados com o celibato católico e acrescentou que, “segundo especialistas” a pedofilia estaria ligada ao homossexualismo. Realmente é muita podridão que acontece nas entrelinhas. Conseguiram fazer com que o episódio já sujo se transformasse em um injusto marketing homofóbico.

Até quando irá se tolerar estes abusos? Quantas crianças precisarão ter suas vidas destruídas por demônios nojentos para que se tome uma atitude de verdade? Onde estão os Direitos Humanos nestas horas? Será mesmo que a Igreja Catolica é uma entidade tão intocável assim que não se pode abrir inquéritos para averiguar estes casos, com condenações e prisões, assim como é feito com todas as outras pessoas? Ou vamos esperar que tragédias como a da escola para crianças surdas em Wisconsin, ou do macabro caso do reverendo Stephen Kiesle, se repitam?

Com tantos abusos assim ocorrendo duas questões pairam no ar (além das várias outras ocultas): será mesmo necessário manter ainda esta hipócrita proteção judiciária à esses criminosos religiosos? E outra: não estaria na hora de se impor medidas para que exista um tipo de fiscalização nas igrejas, nestas relações entre padres e coroinhas, ou em internatos religiosos, seminários e afins? Com acompanhamentos psicológicos e sociais profissionais, para que essa crueldade arcaica caminhe para o fim e estes monstros de batina apodreçam de uma vez por todas no inferno das prisões. Amém.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O dia D-esgraça

Desgraça, entre alguns sinônimos gramaticais oriundos de um dicionário, estão: “o que falta graça”, “o que não é belo” e “algo muito ruim”. Logo, nada mais real do que economizar palavras para definir o caos em que se encontrava a cidade do Rio de Janeiro ontem. Centenas de ônibus fretados se espremiam entre o centro e o aterro do Flamengo. O trânsito engarrafado – quando não, parado- eclodiava até meados da Lagoa, ou seja, praticamente cinco bairros infestados por caravanas e afins, que tinham por intuito conferir a presepada da Igreja Universal intitulada de “O Dia D”.

Mais bonito ainda do que este começo infernal (ironia do destino) foi o final do evento, quando todos queriam sair de uma só vez, achando que a cidade estava fechada para eles. Nisso mais problemas surgiam: eram grupos e mais grupos com um líder e uma bandeira à procura do ônibus certo. Pessoas urinando nas ruas. Mães trocando fraldas nas calçadas alheias. Crianças berrando por algum motivo. Discussões calorosas de moradores inconformados com evangélicos indignados - com a audácia de tais moradores. Sem falar nos gritos, choros e assovios de certas evangélicas vestindo uns trajes sumários que poderiam muito bem ser confundidas com micareteiras. Isso tudo, sem mencionar o caótico trânsito, que ficou impossível até mais ou menos 23h.

E agora? O que falar ou fazer? Este evento aconteceu em praticamente o Brasil inteiro, mas não sei se foi tão aterrorizante quanto a versão carioca. Nesta manhã – com a praia de Botafogo imunda-, e sob a promessa de que eventos deste tipo não ocorrerão mais na cidade, o prefeito Eduardo Paes assumiu a culpa pelos transtornos causados e pediu desculpas, sob a justificativa de que os representantes da Igreja Universal “calcularam” um montante de 100 mil fiéis para a festa – foram mais de um milhão.

Ao menos, Paes foi feliz no comunicado de hoje, mas quanto à promessa, qual tipo de evento não acontecerá mais na cidade? Ficou bastante vago o comentário, o que dá margem para abusos, porque este “dia D” foi um verdadeiro abuso à paciência e a boa vontade dos cariocas. Enquanto o poder de liberações ficar a mercê de poucos influenciáveis, acontecimentos chatos como este, se repetirão outras vezes mais. O que falta é planejamento e imposição de limitações. E outra: já que o “público esperado” foi multiplicado por dez, seria prudente uma bela multa, pois se o evento foi gigantesco, sem dúvida alguma também foi bastante lucrativo, se tratando da empresa responsável.

Por sorte, na próxima sexta também é feriado no Rio de Janeiro, o que significa que os cariocas que se estressaram por conta do ocorrido poderão ter ao menos um dia de verdadeiro descanso, enquanto não acontece outra festinha milionária e egoísta como foi o “Dia D”. Amém.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sangrenta Deficiência Judiciária.

Da semana passada para cá, ficamos chocados com dois episódios distintos, mas que provam o quão deficiente é o sistema penal brasileiro.

O primeiro veio da idéia podre do apresentador Ratinho, do SBT, de entrevistar o assassino Guilherme de Pádua. Quanto à entrevista e a repercussão que isso deu, nada a dizer, até porquê a atitude é claramente ignorante e indignante. Mas fazendo um aprofundamento no caso Daniella Perez, ficamos aterrorizados com a frieza e a falta de escrúpulos do sr. Pádua, um ser humano insignificante e psicopata que tentou, de todas as formas possíveis e incabíveis, ter sucesso algum dia. Assistindo entrevistas e lendo o laudo do crime, é impressionante o juiz da época condena-lo a apenas 19 anos em regime fechado, sendo que o mesmo foi solto em apenas 7 anos.

O outro caso é o do Adimar Jesus da Silva, que é o principal suspeito por assassinar seis jovens em Luziânia, Goiás. O acusado volta à prisão após cumprir uma curta pena por abuso sexual. Curta pena mesmo, porque foram apenas três anos e alguns meses de reclusão. É triste ver que no laudo psiquiátrico deste assassino encontra-se dizeres como “personalidade negativa” e “pontos de sadismo” - sadismo é o prazer sexual em ver o outro ser sofrer.

Para os milhares de brasileiros que não conhecem as leis profundamente – como eu -, ao ler certas coisas ficamos na pensativa, o que há então? Como realmente funciona a justiça brasileira? Será que laudos médicos como este não são suficientes para que certos presos recebam acompanhamentos e que “bom-comportamento” não seja o único motivo pelo qual se pode liberar um presidiário bem antes de cumprir a pena?

No caso de Guilherme de Pádua, tudo pareceu um jogo inteligentíssimo que muitos crápulas usam, hoje em dia, para parecerem bons condutores e poderem, assim, mostrarem estar aptos para voltar à sociedade. O jogo em questão é brincar com a fé, é se tornar pastor depois de ser traficante, estuprador, assassino e afins. Isso ficou bastante claro na entrevista de Pádua ao Ratinho. Ao meu ver, a técnica é a mesma de certos pastores ex-gays e ex-travestis, que achou um negócio lucrativo e por isso utilizam da falsa fé e do falso testemunho para enganar menos favorecidos. Por isso, enquanto esperamos uma resposta do supremo, igrejas são bombardeadas por pastores de araques que apenas querem lucrar com o sofrimento que causaram.

Assim, com o cheque devidamente assinado, surge a dúvida: porque não uma lenta mas eficaz reformulação da legislação judiciária? Não passamos da hora de adotar a prisão perpétua? Até quando veremos assassinos como o casal que matou cruelmente a menina Isabella serem libertados bem antes da decisão final por “bom comportamento”? Até quando seremos obrigados a ver assassinos como o do menino João Hélio, serem libertados um a um por falhas na lei? E o que a justiça diz à doméstica agredida fisicamente - e com seqüelas que a impossibilitam de trabalhar – por jovens ricos e que hoje se encontram todos em liberdade? Ou aos casos já mencionados?

Assim, apenas pedimos: chega de brechas! necessitamos de uma resposta já, pois esta brincadeira de prender bandidos é bastante séria e já está bastante comprometida pelo arcaico sistema que o envolve.

terça-feira, 6 de abril de 2010

A Grande Questão

Você paga meia-entrada? Se sim, acha justo isso? Se a resposta ainda for sim, pergunto-lhe: você assiste a um espetáculo inteiro ou apenas metade dele? E mesmo assim você acha justo pagar meia? Esta discussão é a que prevalece atualmente na justiça, colocando em embate a classe artística e o governo.

Afinal, é certo a classe ser obrigada a dar meia-entrada para muitos, sem receber subsídios algum do governo? Esta é a grande questão, pois o jogo publicitário de pequenas mídias governamentais faz tudo parecer uma cobiça cega das pessoas que trabalham e vivem da arte. Para muitos leigos, cidadãos normais, apreciadores de teatros, shows e cinemas, por exemplo, e que pagam meia-entrada mediante apresentação de carteirinha - original ou não - na porta da bilheteria, esta discussão é infundada e inacreditável, pois tais artistas são pessoas que gostam de usufruir da boa vida e não se contentam com o que ganham.

Essa, é a visão que é passada a nós, os cidadãos leigos e consumidores. Nas entrelinhas, temos custos altíssimos, desde a montagem de espetáculos até a compra de material para se exibir um filme no cinema, valor este que é pago de uma única forma, sem divisão ou descontos por se tratar de arte.

O governo brasileiro exige que espetáculos possuam meia-entrada sem ao menos subsidiar o custo que isso acarreta para a produção. A discussão não é a retirada desta lei, e sim o investimento nela, a criação de um fundo para que os custos sejam relativos aos gastos, e que ninguém saia perdendo.

É por este motivo que temos grandes problemas em nosso país com grandes shows internacionais que demoram ou não passam por aqui, ou grandes produções de teatro que não vão para frente devido à falta de verba, ou filmes geniais que são feitos nas coxas, entre vários outros exemplos.

As leis de incentivos são apenas direcionadas a grandes espetáculos teatrais, descartando o teatro de raiz, o mambembe, que destoa de história neste país.

Repetindo, o que a classe artística, ou a produção executiva destes espetáculos quer, é que o governo não pense que gastar 800 milhões no Ministério da Pesca é o mesmo do que gastar 70 milhões no Ministério da Cultura. É fazer com que as leis funcionem. Que estudantes, idosos e afins exerçam seus direitos de poder fazer parte deste mundo cultural, até então limitado e elitista, sem causar déficit para o espetáculo.

Não é um grande problema, mas é mascarado porque aqui ainda temos problema em reconhecer a arte como de grande importância para um povo. O grau de avanço de uma determinada população é medida de acordo com o nível cultural que prevalece nela. Não é a toa que recebemos muitos subsídios internacionais para que grandes espetáculos, cinematográficos e teatrais, aconteçam da forma que deve acontecer. Nós, brasileiros, somos bastante reconhecidos por nossa cultura lá fora, ano a ano recebemos prêmios e indicações por infinitas atividades culturais, o problema é que não damos o valor, ou não podemos pagar o valor.

É nisso que entra a questão: de quem é a culpa? O que fazer para reverter isso? Os problemas já foram apontados e as possíveis e fáceis resoluções também, mas tudo pode ser resumido em uma única palavra: seriedade. É disso que nossos governantes precisam, apenas disso.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Os 10 melhores álbuns de 2009

Pois então, será essa uma volta? Ou um ensaio de volta como todas as outras vezes? Eu gosto deste espaço por demais e sinto muita falta, ao mesmo tempo que tenho muita pouca pró-atividade em escrever, mesmo quando tenho uma idéia ótima para um post. Porque será? Mas resolvi tornar minha vida virtual mais agitada, usando ferramentas como o Twitter, o Formspring, o Facebook, o Orkut e o Blogger. E para iniciar (de fato) a temporada 2010 deste blog, trago a minha relação dos dez melhores álbuns de 2009, nada atrasado, já que o Oscar foi ontem. Aos amigos, perdão por esta falta de sincronia em minhas postagens e desculpe-me também pelo layout cafona, procurarei corrigir isso. Agora morando na grande cidade do Rio de Janeiro, onde notícias fervem e a vida não para. Boa sorte para mim!! E Feliz 2010 à todos, atrasadamente!


[1º]

Muse – The Resistance

The Resistance fecha com chave de ouro uma trilogia futurista criada pelo Muse. Se em Uprising temos um doloroso hino militar e político com um pouco de esperança, em Exogenesis ficamos a mercê de 15 minutos orquestrados divididos em três atos para narrar um história viajante sobre o mundo daqui há alguns anos. Pode parecer loucura, mas os meninos do Muse tentam apenas pôr um pouco de fábula e crítica em suas músicas, misturando e genializando com a instrumentação. É indescritível a junção dos elementos sólidos de uma banda com a apresentação de sintetizadores e pianos. Ainda temos a tortuosa e potente voz de Matthew Bellamy que defere elegância ao álbum e o faz ser o melhor de 2009.

[2º]

Arctic Monkeys – Hambug

Esqueça tudo o que você, até então, já tinha ouvido do quarteto fantástico britânico. A bateria acelerada com a guitarra e a voz, derivados da euforia adolescente em seus dois primeiros álbuns deram margem a um novo som, algo indescritível, carregado de uma esnobação visível de arrogantes jovens roqueiros que se tornaram adultos. E isso não é defeito. Hambug é sublime na finessi que trata o rock. Aqui temos reclamações da fama, nostalgia da recente adolescência e contos de amor não correspondidos, tudo com uma instrumentação delicada e madura. Alex Turner esta irreconhecível, visualmente e também na voz. Não deixaram de ser os macacos artísticos de sempre mas também não repetiram a fórmula que funcionou muito bem no passado dos, agora, quatro rapazes britânicos.

[3º]

Then Croocked Voltures - Then Croocked Voltures

Este foi, sem dúvida, o album de rock mais aguardado do ano. Com Josh Homme (Queens of the Stone Age) nos vocais e guitarras, John Paul Jones (Led Zepellin) no baixo e Dave Grohl (Foo Fighters) na bateria, o título de super-banda veio como conseqüência e a cobrança foi suprema. Se não fizeram um clássico, só o tempo vai dizer, mas aqui temos o que há de melhor na sujeira do rock n’ roll. Then Croocked Voltures é a soma de experiências roqueiras diversas que se chocam em um excelente projeto que soa como uma aula aos novatos em ação.

[4º]

Franz Ferdinand – Tonight

Se a maturidade vem com o tempo, chegou rápido aos escoceses do Franz Ferdinand. Depois de reinventarem o rock indie e se auto-colocarem no patamar de queridinhos da crítica, pós dois fabulosos álbuns, a banda se consagra com o dançante Tonight. Neste temos batidas eletrônicas permeando todo álbum e um decoro dançante que funciona muito bem nas pistas. Pelo nome e pelas canções do álbum, este era o propósito da banda que supera em criatividade e maturidade.

[5º]

Morrissey – Years of Refusal

O eterno vocalista do The Smiths se encontra neste álbum. É escutável a experiência de Morrissey que faz questão de entrar em conflito com seus instrumentistas. As músicas possuem uma velocidade contagiante que entra em contraponto com a calmaria e a leveza da voz do cantor, que destila um ar de segurança, com canções que falam desde o abandono seguido de pedido de perdão, até uma machista visão de quem pode ou não terminar uma relação. É o poderoso Morrissey firmando seu lugar na história da indústria fonográfica.

[6º]

Pearl Jam – Backspacer

O álbum solo de Eddie Vedder (In to the Wild, 2007) foi um divisor de águas na carreira do Pearl Jam. Agora temos uma busca por mais público, uma preocupação maior em agradar novos visionários. Vedder volta a berrar nos microfones assim como fazia na época de “Ten”, mas também destila sabedoria e segurança nas faixas acústicas, cheias de influências cowntrys e folks, assim como em seu trabalho solo. Backspacer pode soar pop e perdido, o que não seria um defeito se tratando da grandeza do Pearl Jam, mas aos mais sensíveis, o que se percebe é um conjunto de canções que apenas tentam contar uma história, apenas voltar ao classicismo do rock. É muita experiência divulgada.

[7º]

Animal Collective – Merriweather Post Pavillion

Conhecidos por fazer um som bem rebuscado, variando do chato ao genial, o Animal Collective surpreende com um jogo de canções profundas e que incomodam com tantos detalhes e influências. Começando pela capa, ficamos diante à uma figura ótica, que parece estar viva diante nossos olhos.Nas músicas, temos desde o canto gregoriano até a psicodelia hippie setentista. O som minimalista deixa o álbum com um teor de sensibilidade enorme, mas aqui o investimento no mainstream funciona, e as músicas estão mais pop e alcançáveis. São lamentações e lamúrias bonitas, que nos fazem viajar eternamente na busca pelo bom inconsciente. É uma viagem sideral instigante e animadora. Uma superação genial de um grupo que não tenta enganar ninguém.

[8º]

Céu – Vagarosa

Com uma indústria decadente, muitos se perguntavam o que havia acontecido com a estreante Céu, a moça que recebeu elogios e elogios em seu disco de estréia, cinco anos atrás. Pois a mesma moça volta casada e mãe e com um impressionante segundo disco. Vagarosa é complicado. É cheio de nuances e influências que se perdem na aveludada voz de Céu. As letras tratam de relacionamentos afetivos, e o ritmo voa do hippie reggae ao bossa samba com toque indie. É muita informação para um álbum só, por isso o cuidado na escuta. Céu é hoje, a melhor opção de representação nacional no exterior. Vagarosa é um clássico.

[9º]

Air – Love 2

O Air ainda se mantém como exemplares únicos de uma bossa eletrônica. A genialidade se encontra onipresente em fones de ouvidos, necessários para se captar os detalhes únicos de poesias narradas em seus ouvidos. Sussurros, expressões...estão todas lá, apresentadas pela dupla francesa que reinventou o modo de se escutar música eletrônica. Durma e sonhe com os sintetizadores psicodélicos de Godin e Dunckel te levando aos mais belos sonhos.

[10º]

Jamie Cullum – The Pursuit

Cullum não mudou. Ainda bem. Esta moda de experimentar novos estilos ainda não chegou ao jovem inglês que toca perfeitamente um delicioso new jazz. A maturidade juvenil e as experimentações com a voz e com o piano permanecem durante todo o álbum. Agora, ainda somos agraciados com toques de sintetizadores e instrumentos eletrônicos que dão um certo charme a certas canções, mas que não fariam falta também. Cullum também apela ao pop - como em uma regravação de Rihana -, mas não perde a sensualidade e a canastracidade que o fizeram ter nome e sobrenome no mercado musical.

domingo, 24 de janeiro de 2010

A Espera de Na’vi


Estamos sendo obrigados a viver em um novo mundo, a mercê de mudanças que afetarão e muito nossa vida hoje e amanhã, e ficamos a espera da boa vontade de autoridades para tentar reverter a vingança limpa que estaremos enfrentando nos próximos anos.

Ao final de 2009 fomos surpreendidos com o COP-15, a Conferência Climática de Copenhagen, que nada mais foi do que a comprovação de que os países elitistas e endinheirados que ocupam o topo da lista dos mais ricos do globo não estão dispostos ainda a encarar o aquecimento global como um fato e muito menos em desencadear alternativas suficientes e vigentes para que o regresso deste acontecimento aconteça, ao invés de aumentar. Ali fomos obrigados a assistir uma batalha de egos em que financiar projetos para a redução de monóxido de carbono nas urbanizadas cidades de seus países, investindo bons bilhões de dólares, parecesse piada, já que pelo visto, esta “viagem científica” parece piada diante tantos outros problemas maiores a se resolver, como guerras pessoais.

Para coroar a baboseira que foi a conferência, tivemos a volta de James Cameron e seu fascinante Avatar, que além de tudo passa uma mensagem realmente peculiar e que deve ser levada a sério. Era o que queríamos ouvir de nossos representantes na conferência.

No mais, infelizmente, na virada do ano, a prova cabal de que não podemos mais ser tão egoístas diante o mundo em que vivemos aconteceu e não dá para virar as costas e apenas lamentar diante da magnitude que foi o desastre. Por volta de 100 mil mortos em um país onde a miséria já figurava com a principal mazela, o grande terremoto no Haiti, em meados deste mês acabou de vez com um país que já nada tinha a perder. No momento todos os olhos estão voltados para lá, ações políticas e humanitárias ao montes. Milhões e milhões de dólares arrecadados para a reconstrução do local e pedidos de ajuda para nós civis. É nessas horas que percebemos que apenas nós mesmos para fazer algo por este mundo. Que muda-lo depende de nossa boa vontade e de nosso poder em levar aos olhos de todos que não podemos mais crescer financeiramente e corporativamente sem a ajuda da natureza. Não podemos mais ignorar o fato que os tempos e o tempo/clima são outros. Já obtivemos provas suficientes, em vários cantos do mundo de que ainda somos muito suscetíveis aos tormentos naturais, e nisso fica a questão: até quando ainda ignoraremos que não somos nada diante a força da natureza, e até quando iremos lutar contra essa maré, ao invés de incorporar isso na construção deste nosso planeta? O desastre no Haiti não vai ser o único, e infelizmente ainda passaremos por muita coisa parecida. O que nos resta é fazermos nossa parte e cobrar dos egoístas que comandam nosso mundo um pouco de luz na escolha de projetos que beneficie a todos, inclusive a natureza, adotando nela uma parceira, e não uma inimiga.

Dica do Post:

Como mencionado, tardiamente imploro para que não percam o fenômeno Avatar nos cinemas. Concordo do fraquíssimo e super previsível roteiro, mas vocês não viram nada igual mesmo até hoje. É um divisor de águas do cinema tecnológico. É um novo começo para o blockbuster. E novamente, a era do cinema é renovada. A fotografia com as locações formam um ambiente surreal, um mundo em que todos sonham em viajar, em uma história inesquecível e cheia de clichês essenciais para compreendermos o quão nojentos podemos ser, já que o filme aposta em adotar o ser humano como um ser desprezível de caráter e de confiança. Não percam, muito menos em 3D. O mundo de Na’vi merece ser visitado por todos.

(Nota: 9.5)