
Além de tocar em assuntos que atingem sem dó nem piedade diversas camadas de nossa sociedade – mais ainda a população fluminense-, o filme de José Padilha foi vítima de um crime que muitos de nós cometemos, mas fazemos sem pensar nas conseqüências, que é a pirataria. Assim, discussões são inevitáveis, e
Tropa de Elite vem causando rebuliços e opiniões diferenciadas em cada canto do país, o que é incrível em um país como o Brasil.
Discussão 1: O Caso de Polícia.
A questão da pirataria, ainda mais neste caso, deixa evidente que é um crime com força em nosso país, e não é feita por pessoas em particular. O que temos nesse mercado, é sim uma máfia - ou um crime organizado, se preferirem. A prova é tida nos indícios de que o técnico de edições teria vendido o longa por 5 mil reais, montante bem superior a renda de um grupo de camelôs para se pagar em um filme. A investida desse grupo deu certo. Tropa de Elite é o filme mais procurado nas ruas das cidades e já é encontrado até em locadoras, que colocam o filme para locação. Infelizmente, não se têm muitas alternativas para se combater a pirataria. Em um país onde o preço de um dvd original, não sai por menos de 40 reais, chega a ser um absurdo criticar aquele trabalhador que ganha por volta de 3 salários mínimos e tem uma família para sustentar, quando esse compra o mesmo dvd de R$ 40 por R$5. Além disso, hoje em dia, pensa-se duas vezes em pagar 15 reais em um ingresso de cinema enquanto já se tem o filme desejado por R$5 no camelô mais próximo. Assim, com uma economia arcaica como a nossa, e uma organização poderosa como é a da pirataria – junto também com o nosso famoso “jeitinho brasileiro”-, é um problema difícil de se solucionar. Além de tempo, é necessário mudar muitas coisas que afetariam economia e sociedade de uma forma avassaladora, e sabemos como isso já é o bastante para que não façam nada para resolver tal problema.
Discussão 2: O Filme.
Manchete da parte cultural de um importante jornal capixaba: “‘Tropa de Elite’ está na mira da polícia”. Segundo relata a reportagem, um grupo de 23 policiais militares vai pedir a suspensão do filme nos cinemas brasileiros, alegando que o filme fere a imagem da Polícia e do BOPE - Batalhão de Operações Policiais Especiais. Ok, mas vamos com calma. O filme do José Padilha em momento algum faz referencias maldosas a nenhuma das partes. No que condiz ao BOPE, é até o contrário. O BOPE mostrado no longa, é o sonho de policiais que deveriam estar nas ruas nos defendendo. Com uma competência fabulosa mostrada e um lado digno de ovação, o BOPE em nenhum momento é manchado por mentiras durante a trama. Agora em relação à Policía Militar e Civil, é diferente, mas não injusto. O filme mostra apenas um lado que sabemos que existe mas não acusamos por falta de provas. Vendas de armas para traficantes, corrupção dentro do posto policial, participações em esquemas de jogos e prostituição, entre outros delitos que não eram para ser cometidos por àqueles em que devíamos confiar. Entretanto, Tropa de Elite também mostra os motivos que levam esses policiais a “entrarem” neste mundo. Exemplificando o salário baixo (o policial iniciante no Rio de Janeiro é o que menos ganha em todo o país) e as más condições em que o oficial é submetido ao trabalhar. Focalizando no sistema que acomete aos policiais do Rio de Janeiro, surpresas horríveis são apontadas nas estatísticas, o que nos fazem ficar perplexos com a bola de neve da problemática, e que requer urgência na resolução. Comparando com São Paulo, além do salário inicial ridículo (em São Paulo o valor do montante é de R$1240), o índice de resolução de problemas – que em SP é de 70 %-, no Rio não passa de 2%, o que é um absurdo. Além disso, o número de produtividade da policia fluminense caiu 31.7% só este ano. É um retrato triste, mas que está escancarado e ninguém toma uma providência adequada para reverter o quadro. Como vêem, não tem fundamento a alegação da Policia Militar em barrar o filme. Seria até estupidez eles fazerem isso.
Discussão 3: Censura.
Além da reivindicação dos PM´s quanto as cenas do filme, algumas autoridades concordam com a exibição do longa nos cinemas contanto que tirem certas partes, como a dos playboys sendo mortos e carbonizados. Isso é o mais ridículo. Em pleno século XXI sermos obrigados a nos deparar com tamanha bobagem. Se for assim, é melhor que a versão pirata continue rodando por aí.
Enfim, Tropa de Elite, como foi dito no post/crítica, deveria ser obrigatório a todos os brasileiros. Não é apenas um estupendo filme, mas a realidade mostrada é aquele que vem fazendo com que o Rio de Janeiro se assemelhe à campos de conflito no Iraque. É um grito às autoridades, para que olhem para o sistema que acomete às policias e tomem providencias: aumento de salário, equipamentos eficientes (porque o dos bandidos é mil vezes superior aos usados pelos policiais), direitos impostos, entre tantos outros podres que não dão mais para piorar. A violência no Brasil – com destaque ao da cidade maravilhosa-, consome o poder de nosso povo diante o mundo. Encobre aquilo que temos de bom para mostrar aos estrangeiros e atrapalha e muito o desenvolvimento do nosso país. Já é tarde para se começar a fazer algo.