segunda-feira, 17 de março de 2008

Across the Universe, 2007


A aposta de cineastas em voltar a produzir longas baseados em musicais da Broadway, com o fascínio dos palcos transformado em exuberantes obras cinematográficas – como HairSpray, Dreamgirls e Chicago -, fez com que a decepcionante e previsível indústria de filmes americanos se reinventasse e fizesse do gênero musical mais mastigável à todas as camadas populares, o que é louvável. Mais louvável ainda é quando somos presenteados com bons musicais e com identidade própria. Esse é o caso de Across the Universe, dirigido pela competente Julie Taymor (Frida) e que tinha todos os elementos para se tornar um clássico, mas que escorrega feio na desordem do roteiro e na má edição final.

[SINOPSE] Uma história de amor num cenário ambientado na década de 60 em meio aos anos turbulentos de protesto contra a guerra, exploração da mente e rock 'n roll, o filme vai das docas de Liverpool ao universo criativo e psicodélico de Greenwich Village, das ruas tomadas pelos protestos em Detroit aos campos de morte do Vietnã. Os artistas namorados Jude (Jim Sturgess) e Lucy (Evan Rachel Wood), na companhia de um pequeno grupo de amigos e músicos, são atraídos pelos movimentos contrários à guerra e da contracultura que surgiam, com o “Dr. Robert” (Bono) e “Mr. Kite” (Eddie Izzard) como seus guias. Forças turbulentas fora do controle deles acabam separando os dois jovens, obrigando Jude e Lucy – contra todas as adversidades – a encontrarem um jeito de voltar um para o outro.

O interessante de Across the Universe, é a utilização certeira de certas músicas dos Beatles, que se encaixam perfeitamente em dados momentos e faz com que o filme tenha um sabor especial e nostálgico à nós fans da banda de Liverpool. Taymor se revela não apenas uma beatlhemaníaca como também uma brilhante conhecedora dos maus tempos que cercaram a população americana durante a Guerra do Vietnã, com destaque à profunda e sincera visão aos jovens da época. Por ser ambientado com um elenco jovem e com uma linguagem um tanto indie, o filme tem a sorte de ser inovador no sentido da plenitude do amor adolescente. As confusões interioranas, a preocupação com o meio, o desejo revolucionário e a vontade de fazer tudo dar certo (na vida e no amor), faz de Across the Universe um retrato fiel e histórico da juventude sessentista.

A escolha dos atores de certa forma foi notável. Julie, aliás, tem essa característica em potencial. Escolher um elenco digno e competente e que não traz tantos holofotes pessoais ao longa. Jim Sturgess e Ewan R. Wood são sinceros nas palavras e nas trocas de olhares, e sabem trabalhar em um romance – acreditem, por mais fácil que seja, atualmente é raro ver competência nesse gênero. O mais no elenco do filme fica por conta da talentosa Dana Fuchs, que aparece bem pouco mas se destaca. Felizmente não há falhas com atuações, e nem pudera ter, já que a diretora se confundiu em peso e grau com as constantes aparições/sumidas de personagens. O exagero prevaleceu nesse sentido e fez com que o longa se transformasse em uma promissora história sem nexo. A utilização de personagens como Prudence (que pelo visto só foi posta no filme devido à música de mesmo nome dos Beatles), que aparecem-somem-aparecem novamente sem explicação cabível alguma, é frustrante e decepcionante. Outro exemplo foi Bono Vox aparecendo por dez minutos e sem mais é retirado de cena de forma instantânea e inexplicável.

O filme conta com um jogo de câmeras bem feito e com uma fotografia incrível. Utilizar momentos de psicodelia, além de sublime, seria de grande acerto no longa. As imagens são fantásticas e isso é incontestável. Entretanto, sabendo que este recurso é no mínimo fascinante aos telespectadores, Julie novamente exagera na dose e deixa no filme takes que poderiam ser descartados pela falta de ligação com o filme. O trabalho de edição parece ter sido corrido a ponto de deixar cenas desnecessárias à visão de cinéfilos atentos.

Outro “possível” erro, foi a utilização das dezenas de músicas dos Beatles sem cortes. Decerto que é um musical, mas o proveito poderia ser inexplicavelmente maior caso houvesse um engenheiro de som competente na maravilhosa trilha. Isso fez com que Across the Universe se tornasse um filme demasiado longo e que foge ao estereotipo de popular - o que não é uma qualidade.

Julie Taymor tinha todos os ingredientes para fazer de Across de Universe o melhor filme de 2007, entretanto erra a mão e nem ao menos faz do longa-metragem um musical cinematográfico competente e maravilhoso – que é como ele deveria ser no mínimo. Across the Universe nem de longe passa despercebido, é um filme carismático, inteligente e competente, imperdível até, mas incomoda com tantos erros visíveis vindo de uma grandiosa diretora que jogou um possível trabalho extraordinário no acaso do comum.

Nota: 8.5

Dica do Post:
Acometido pela vasta (e brilhante) obra de Ella Flitzgerald e Nina Simone, me perdi um pouco no gênero que mais me identifico: o bom e velho rock. Quase que deixo de ouvir um dos discos mais bem feitos de 2008 até agora:
Accelerate - R.E.M. (4estrelasde5)
A banda (imortal por Losing My Religion), extrapola suas barreiras e inova a carreira com este fabuloso disco. O melhor deles nesta nova década. O R.E.M. volta a suas raízes e nos presenteia com o velho e ótimo power/rock/pop que tanto brilhou em sua carreira na década de 90. E não pensem vocês que escutarão um som já passado e enjoativo, o interessante de Accelerate é a facilidade com que o som funciona no decorrer do álbum, partindo de um prisma antigo - por assim dizer-, e chegando aos dias atuais, com uma baixo e uma guitarra enfurecida. Quase inacreditável!

15 comentários:

Danilo Moreira disse...

Tudo q remete aos anos 60 me fascina. Tanto q já cheguei a passar mais de nove meses da minha vida escrevendo uma história com esse ar revolucionário e sincero dos jovens da epoca e como pano de fundo a ditadura militar.

Porém, como um bom observador, me incomoda num filme, ou texto qualquer, essa coisa de personagens aparecendo e desaparecendo sem nexo nenhum. Fica uma sensação estranha no ar.

Qto a dica, confesso n curtir tanto REM, exceto a q eu mais gosto "Imitation Of Life". Mas vou conferir sim o som deles.

Abçs!!!

Tem delírio novo no Em Linhas... confira!!!

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Quando as palavras se tornam o nosso mais precioso divã.

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Isa disse...

Ei guri!! Saudades tuas!!

Lari Bohnenberger disse...

Eu estou louca para ver este filme!
Fiquei mais curiosa e intrigada após ler esta crítica. Aliás, muito bom ler uma crítica de qualidade sobre cinema. Parabéns!
Bjs!

O Antagonista disse...

Tem música dos Beatles? Então vou assistir... hehehe... gosto muito desse tipo de filme, mas alguns são bem chatinhos... espero que esse não chegue a esse ponto!

Valeu!

Unknown disse...

uma promissora história sem nexo... foi justamente o que achei. Nem de longe Across the universe foi o que me falaram. É um bom filme , cheio de erros como você falou , para mim é 3 estrelas.
Otima critica...

Abração

Obs: Filme que odiei e muitos tão gostando é 10,000 A.C. , coloquei a critica no ar...

Abração

http://clickfilmes.blogspot.com

Andrey Lehnemann disse...

Vi o melhor filme do ano. E é espanhol... Dá uma passada lá.

http://clickfilmes.blogspot.com/

Anônimo disse...

E aí, Diego? Tudo bão?

Então, rapaz, não sou muito fã de filmes ambientado nos anos 60, gosto dos 50, mas vou deixar pra julgar isso quando assistir. Já estou com o filme em mãos e só vou ter tempo pra curtir uma pipoca no final de semana e olhe lá.

Olha, tá aí, mais uma pessoa que gosta do R.E.M. Só pra deixá-lo com raiva... Eu fui no Show que eles fizeram no Rock in Rio!!!

Eles tocaram, Stand, It's the end of the world, Have You Ever Seen The Rain... só pra indicar algumas.

Abraços

Euzer Lopes disse...

Olha, se esse filme for tão gostoso de se ver como foi "Hairspray", será um sucesso, com certeza

Diego Moretto disse...

Bom, o filme não é impossivel de se perder, mas vale a pena. Tem muitos erros, mas para assistir de forma passiva ta valendo a qualidade.
Eu nem ia escrever sobre o tal, mas chegaram pra mim falando q o filme era extraordinário e coisa e tal, e não foi uma, 2, 3 pessoas não, foram muito mais. Bom, oq eu achei do filme esta aí. Espero que gostem.
ABRAÇOS e vlw por comentarem. Voltem sempre!!!

Cora disse...

eu amei across
mas eu sou uma romântica
rs
BjO

Rafael Carvalho disse...

eu amei a cora,

mas eu sou antiromântico

Lari Bohnenberger disse...

Oi, Diego!
AMEI o filme! Não tenho um grande conhecimento de cinema a ponto de fazer uma análise crítica como a sua. Geralmente nestes casos a emoção toma conta de mim e a minha razão não enxerga nada. Fiquei tão maravilhada com as interpretações e com o encaixe perfeito das letras das músicas nas situações dos personagens que não prestei atenção em mais nada!
Mas concordo com você quanto ao excesso de psicodelia... tem uma cena que eu acho plenamente dispensável. Mas faz parte do mundo LSD dos anos 60, então eu acho que tudo está valendo. E acho que a sua nota foi justa!

Beijos!

Freddy Simões disse...

A história é meio desconexa mesmo, mas vale muito à pena assistir ao filme por causa da maravilhosa trilha sonora composta de músicas dos Beatles! Cada vez mais estou certo de que eles são incomparáveis, mesmo passados 38 anos da extinção da banda!!

Confira as últimas matérias do blog Café Cultural:
- Simone e Zélia Duncan juntas em CD e DVD ao vivo;
- Sangue, mistério e arte (semelhanças entre o filme "Sweeney Todd - O barbeiro demoníaco da Rua Fleet" e o caso real, conhecido como "Os Crimes da Rua do Arvoredo", episódio policial mais polêmico do Brasil).

http://cafe-cultural.blogspot.com

ScullyMulder disse...

Só para constar, eu amo Ella Flitzgerald e Nina Simone. E o filme Onde os fracos não têm vez é, realmente, muito bom.

Anônimo disse...

Dieguito, vou confessar que ainda não assisti esse filme. Estou relutante! Também, não faz muito tempo que meu relacionamento acabou, portanto, quero distância de filmes românticos.. ;) Mas quando eu assistir, volto aqui e comento.

Abraços