Venezuela: A Cuba do séc. XXI?

Tendo seu mandato iniciado na semana passada, e que durará por mais seis anos, o presidente venezuelano Hugo Chávez disse que vai implementar a doutrina socialista em seu atual governo. O projeto intitulado de "socialismo à venezuelana", contará com metas que ele acredita que beneficiará o país no decorrer dos anos. Nacionalização dos setores industriais (principalmente as de petróleo), controlar a oposição (censura?) e fazer com que seu mandato pendure por toda a sua vida - centralizado com maior rigor-, o poder do país em suas mãos, são alguns dos objetivos de Chávez nesse "socialismo à venezuelana".

A declaração do presidente afetou em cheio a economia de todo mundo. A Venezuela é um dos maiores exportadores de petróleo do mundo, e com isso o mercado petrolífero internacional teme que a nacionalização das estatais venezuelanas faça com que os preços que giram em torno desse petróleo, sofram abusos impensáveis. Depois de Chávez ter feito a declaração, em sua cerimônia de posse, as ações das industrias venezuelanas, que moviam a Bolsa de Valores de Nova York, caíram vertiginosamente, e teme-se uma crise.

Segundo reportagem do Jornal Nacional, a grande maioria da população venezuelana desacredita na possibilidade de seu país se torna uma nova Cuba. E nem poderia. A implantação da doutrina socialista em Cuba se deu em época bem diferente de nossa. Foi em plena Guerra-Fria, com um enorme apoio da União Soviética (bem forte na época) e uma população com um grande número de jovens revolucionários e esquerdistas, o que facilitava o comando do então ditador Fidel Castro. Hoje o caso é bem diferente.

Alguns intelectuais que são a favor do socialismo venezuelano, defendem que tendo Chávez como um político centrado, apaixonado pelo modo de vida cubano, e que acompanha a trajetória do país desde muito tempo - visualizando todos os erros e acertos -, fará com que essa implantação socialista siga baseada apenas nos acertos do governo de Fidel, tendo assim, uma política socialista de sucesso. Por outro lado, essa teoria soa como utópica demais. Chávez não parece ter certeza de nada do que fala, infelizmente. Apesar da firmeza e da autoridade que o presidente (mais para líder) mantém, seus discursos sobre uma Venezuela mais “vermelha, vermelhinha”, são um tanto sem propósitos.

No Brasil, a política do presidente – e amigo de Chávez – Lula diante do governo da Venezuela, se baseia na aproximação dos dois países. Se realmente acontecer de Hugo Chávez implementar o socialismo, especialistas como o cientista político Celso Lafer, garantem que o melhor a se fazer, é o Brasil se afastar da Venezuela. Mesmo a idéia de Chávez tendo agradado governos como o da Bolívia e do Equador, o Brasil não pode criar quaisquer tipos de aliança com o governo da Venezuela, caso torne socialista. Manter a identidade do Mercosul, mesmo sendo desfavorável ao que Hugo diz, ainda é a melhor opção do governo brasileiro.

Chávez já teria começado a implatação do sistema. Neste sábado (13/01), o presidente venezuelano disse que nacionalizará todo setor de energia da Venezuela. "Nós decidimos nacionalizar todo o setor energético e elétrico venezuelano, todo, absolutamente todo", disse Chávez na Assembléia Nacional. A medida, segundo o novo ministro de telecomunicações, Jesse Chacón, não afetará todo o setor, apenas a empresa norte-americana Verizon, que controla a CANTV desde a sua privatização, em 1991.

Chávez pode ser comparado ao general argentino Juan Domingo Perón, que assim como ele, por meio de políticas assistencialistas – que geram algum contentamento por parte da população-, conseguia votos em massa e se tornou preferido pela população venezuelana, que acredita que a adoção de um regime socialista pelo presidente será um ato de traição, e que por isso, é bem provável que isto não aconteça.

A verdade é que Hugo Chávez esta deslumbrado, pois Cuba parece ter dado um tanto certo. O país comandado há décadas pelo ditador Fidel Castro tem uma população pobre, mas com uma taxa de analfabetismo baixa e um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) relativamente alto. Em detrimento a isso, temos a Venezuela, com uma taxa de analfabetismo bem elevada, um exorbitante número de mortalidade infantil e 47% da população vivendo abaixo do nível de pobreza, figurando assim um médio IDH. Assim, Hugo Chávez se mostra um símbolo do que muitos países da América do Sul acabam por fazer: confundir sonho com a realidade. Por ser assim, acabamos por “meter os pés pelas mãos” na maioria das vezes. Acredito que a implantação da doutrina socialista na Venezuela trará muito constrangimento a este continente, e se Chávez não mantiver o controle de seus atos perante o mundo, figurará em breve como um artista circense na política mundial, assim como já figura seu rival, o presidente americano George W. Bush.