1º The Suburbs - Arcade Fire
Por um momento em 2010 o mundo parou para ouvir o aguardado terceiro álbum dos fabulosos canadenses do Arcade Fire. Donos de dois álbuns, considerados clássicos da última década, a opera band movimentou a internet durante umas boas semanas. E o resultado não poderia ser outro: mais uma genialidade. A banda entrega um álbum conceitual, sobre as mazelas e a felicidade obrigatória de um subúrbio. Como em uma novela, contos/poemas narram trajetórias, tudo isso sob um instrumental arrepiante, incrível como sempre. O Arcade Fire evidencia um som mais maduro, mais pesado, com todos os elementos que os colocaram como preferidos de público e crítica. Difícil escolher, dentre tantas, as melhores faixas. Temos em “Ready to Start” a sabedoria da construção de um excelente indie rock song. Em “Rococo” um hino crescente e doloroso, guiado por um Win Butler extremamente consciente e seguro de si. Em “Sprawl (Flatland)”, Butler chora um doloroso poema que será seguido por uma explosão psicodélica. Logo, quase fechando, somos presenteados com a melhor faixa do ano, “Sprawl II (Mountains Beyond the Mountains)” uma canção delirante, lisérgica, que visita e homenageia um passado setentista, dando um sentido maior à construção desta canção regida com maestria por Régine Chassagne. Por isso, hoje, os canadenses do Arcade Fire são os maiores do mundo. Se vão arcar com as conseqüências disso, só o tempo dirá, o importante agora é desfrutar da grandiosidade desta discografia impressionante.
2.My Beautiful Dark Twisted Fantasy - Kanye West
Infelizmente Kanye West, novamente, fez um dos melhores álbuns do ano. Digo infelizmente porque West é um dos maiores canastrões que o mundo da música já teve o desprazer de conhecer. Rancores à parte, falar do egocentrismo exagerado de Kanye é redundância já, mas falar de sua genialidade também anda sendo. Os últimos três álbuns do rapper não possuem outro elogio a não ser excelente. Nada abaixo disso. Sempre se reinventando, aqui, West visita diversos ritmos e os incorpora no seu rap àcido, semelhante à sua verdadeira pessoa. Reggae, eletro, R&B, new pop, rock progressive são auras musicais rodeadas pelo rap, narrando e jorrando palavras sobre assuntos indeterminados como AIDS, fama, Prada, política americana e, é claro, seu ego inflado. Em seu auge egocêntrico ele manda “se Deus tivesse um Ipod, eu estaria em seu playlist”. Kanye West possivelmente produziu o melhor álbum de sua carreira até agora, é um odiado que temos que amar e respeitar. A criatividade e a coesão são características irrefutáveis de seus trabalhos. Prata na lista, e infelizmente, merecidamente.
3.Hidden - These New Puritans
Raramente, mas as vezes, ser rebuscado é agradável. Os ingleses do These New Puritans, apesar da pouca idade, sofreram algumas injustas acusações, como “pseudo-intelectuais pós-punk”, dentre outras do tipo. Não é um som acessível, nem um pouco, mas a propriedade intelectual do grupo é enorme e muito visível. Em Hidden isso fica evidente. As soturnas canções expõe uma banda preocupada com o mínimo detalhe, maduros apesar da pouca idade, e com um conhecimento acerca de instrumentos, música erudita e eletrônica gigantescos. As construções são quase perfeitas. Sujas, mas com uma delicadeza impressionante. O pós punk é mesmo presente em todo o disco, e o desespero juvenil também. Daqui extraímos verdadeiras obras-primas como “Attack Music” e “We Want War”, um verdadeiro hino clamando guerra contra a guerra. Hidden é uma descoberta primorosa sobre a união do orgânico, do eletrônico e do erudito. Um tapa na cara aos que subestimaram estes garotos ingleses que apenas estão começando.
4.High Violet - The National
O histórico dos canadenses do The Nationals e recheado de acusações contra a sua solidez como grupo, no sentido de saber o que quer, objetividade. Em High Violet, enfim, encontram um meio termo. Indecisos sobre o alternativo e o mainstream, neste álbum o equilíbrio prevalece. Instrumentalmente quase conceitual, a magnífica voz de Matt Berninger rouba a cena durante todas as musicas, não desmerecendo o excelente trabalho dos instrumentistas. É um disco profundo, ao extremo, sobre amores e dores envolvidos pelo indie rock/blues e toques folk. Com hinos sentimentais grandiosos, a magnificência é nítida na primeira audição. Clássico!
5.This is Happening - LCD Soundsystem
James Murphy é um gênio. Começamos por aí. O cara à frente do LCD Sounsystem colocou o que pode ser a união musical perfeita do futuro com exatidão e entregou, em 2007, um dos melhores – se não o melhor – álbuns da década (Sound of Silver). Em 2010 anunciou o fim do LCD, e como despedida This is Happening veio como uma bofetada. Como se não bastasse a ligação harmonicamente perfeita entre a música eletrônica e o rock, Murphy visita outros elementos musicais orgânicos e eletrônicos. O progressive e o blues aparecem como influências nítidas. As letras são pura ironias, sejam elas rindo de garotas bêbadas ou comentando sobre os abusos de gravadoras. Caso seja mesmo o fim, o LCD Soundsystem construiu um legado primoroso na música, e fará falta. Torcer para que o mestre inquieto, James Maurphy, nos surpreenda em breve com alguma ousadia capaz de balançar nosso mundo, novamente.
6.Becoming a Jackal - Villagers
Os irlandeses do Villagers caso resolvessem seguir à emotividade exaltada, oriunda da música de seu país, seriam apenas mais um cubo de gelo meio a uma geleira. Fugindo disso, Connor O’Brian – e banda - adota um folk ensolarado em sua estréia, Becoming a Jackal, visitam rock stars como Doves, Coldplay e Silverchair e constroem um coeso e significativo álbum. Apesar do trabalho técnico e instrumental caloroso, contrastando com sua origem, as letras não o negam. A emoção subliminar se mistura à uma sombria e soturna onda de mistérios, sobre relacionamentos e vida pessoal. A maioria das músicas é dividida em atos, crescentes, que funcionam como explosões em ouvidos atentos a este álbum redondo, e o toque do folclore irlandês nos instrumentos como orgãos, codas finas e piano, fazem deste um disco excepcional e único, para se ter guardado e lembrado para sempre.
7.I Learned The Hard Way - Sharon Jones & The Dap Kings
Sharon Jones já conseguiu um pedacinho da fama na década de 70, mas foi esquecida. Para sustentar o que sempre amou - cantar - trabalhou como carcereira e segurança. Em 2010, o grupo The Dap Kings (grupo que acompanha Amy Winehouse) a convida para gravar um álbum. A junção da forte, estridente e incrível voz de Jones junto ao profissionalismo e experiência do funk do The Dap Kings faz deste uma das melhores parcerias surgidas nos últimos tempos, do tipo a fazer a senhora Winehouse pedir desculpas eternas à esta grande e verdadeira diva. É um álbum sessentista feito em 2010. Perdoa-se o som muito limpo, sem aqueles grandes abusos negros e incríveis. O resultado final é forte. Soul literal, cabal. Não há o que se discutir, só agradecer a volta de Sharon Jones.
8.Teen Dream - Beach House
Estranhamente fofo, o duo Beach House acerta em cheio ao adotar um som mais orgânico, mais cru e nítido do que seus trabalhos anteriores. A bela voz de Victoria Legrand flui como uma seda ao vento no instrumental vasto e competente dos outros integrantes. A bateria mais evidente também é um ponto super positivo. Inclassificável. Não é um cowntry indie acústico, nem um dream pop e muito menos um folk, apesar de navegar claramente por estes estilos. É um disco californiano, ensolarado, surfer, porém muito preciso. Para se ouvir nas mais deliciosas ocasiões.
9. Swim - Caribou
Daniel Snaith, o canadense por trás do Caribou, enfim acertou. Se antes insistia na viagem pela psicodelia rebuscada, em Swim encontrou um mar aberto e acessível a todos. Por aqui, adota-se uma coesão precisa, com canções muito mais eletrônicas do que orgânicas – acerto louvável deste instrumentista – sem perder a sua paixão pelo psicodelismo. O álbum é uma viagem, para muito longe. Faz com que flutuemos e acerta em ser eficaz tanto nos ipods como nas pistas. “Sun” talvez seja a melhor mostra disso. É redonda, perspicaz e até o fim transcende, porém mantendo corpos no chão. É a lei da gravidade brigando pela liberdade extrema.
10. A Thousand Suns - Linkin Park
Conscientemente, este álbum não figuraria entre os dez mais do ano. No entanto, acompanhando a trajetória desta banda, como verdadeiro fã, seria muito desleal não cometer esta afronta. Difulsores de um nu-metal mainstream, os Linkin Park alcançaram fama mundial com hits fáceis, inteligentes e pegajosos. Venderam milhões de discos, ganharam prêmios e hoje são uma das mais bem sucedidas bandas de rock da história. Com A Thousand Suns, a banda busca se reinventar sem perder o brilho e a marca de outrora. Ainda existem o bom rap do Mike Shinoda, a versatilidade vocal, de berros à agudos, de Chester Bennington continua roubando a cena, e agora, mais do que nunca, a investida em picapes eletrônicas se tornou crucial para a construção deste álbum. Os Linkin Park vagueiam pelo pop experimental, pelo hard rock, pelo nu-metal e fecham o disco com um acústico – erro. A maturidade é visível nos recursos usados, nas experimentações e nas letras bem escritas. Tristemente ainda é muito popular, comercial, mas mostra que no futuro pode vir um álbum histórico, profissional e inesquecível. Esta valendo a pena esperar.
1 comentários:
Cara, tem coisa aí que não conheço... vou procurar agora um por um... Suas dicas são ouro!
Valeu.
Postar um comentário