quinta-feira, 22 de abril de 2010

O dia D-esgraça

Desgraça, entre alguns sinônimos gramaticais oriundos de um dicionário, estão: “o que falta graça”, “o que não é belo” e “algo muito ruim”. Logo, nada mais real do que economizar palavras para definir o caos em que se encontrava a cidade do Rio de Janeiro ontem. Centenas de ônibus fretados se espremiam entre o centro e o aterro do Flamengo. O trânsito engarrafado – quando não, parado- eclodiava até meados da Lagoa, ou seja, praticamente cinco bairros infestados por caravanas e afins, que tinham por intuito conferir a presepada da Igreja Universal intitulada de “O Dia D”.

Mais bonito ainda do que este começo infernal (ironia do destino) foi o final do evento, quando todos queriam sair de uma só vez, achando que a cidade estava fechada para eles. Nisso mais problemas surgiam: eram grupos e mais grupos com um líder e uma bandeira à procura do ônibus certo. Pessoas urinando nas ruas. Mães trocando fraldas nas calçadas alheias. Crianças berrando por algum motivo. Discussões calorosas de moradores inconformados com evangélicos indignados - com a audácia de tais moradores. Sem falar nos gritos, choros e assovios de certas evangélicas vestindo uns trajes sumários que poderiam muito bem ser confundidas com micareteiras. Isso tudo, sem mencionar o caótico trânsito, que ficou impossível até mais ou menos 23h.

E agora? O que falar ou fazer? Este evento aconteceu em praticamente o Brasil inteiro, mas não sei se foi tão aterrorizante quanto a versão carioca. Nesta manhã – com a praia de Botafogo imunda-, e sob a promessa de que eventos deste tipo não ocorrerão mais na cidade, o prefeito Eduardo Paes assumiu a culpa pelos transtornos causados e pediu desculpas, sob a justificativa de que os representantes da Igreja Universal “calcularam” um montante de 100 mil fiéis para a festa – foram mais de um milhão.

Ao menos, Paes foi feliz no comunicado de hoje, mas quanto à promessa, qual tipo de evento não acontecerá mais na cidade? Ficou bastante vago o comentário, o que dá margem para abusos, porque este “dia D” foi um verdadeiro abuso à paciência e a boa vontade dos cariocas. Enquanto o poder de liberações ficar a mercê de poucos influenciáveis, acontecimentos chatos como este, se repetirão outras vezes mais. O que falta é planejamento e imposição de limitações. E outra: já que o “público esperado” foi multiplicado por dez, seria prudente uma bela multa, pois se o evento foi gigantesco, sem dúvida alguma também foi bastante lucrativo, se tratando da empresa responsável.

Por sorte, na próxima sexta também é feriado no Rio de Janeiro, o que significa que os cariocas que se estressaram por conta do ocorrido poderão ter ao menos um dia de verdadeiro descanso, enquanto não acontece outra festinha milionária e egoísta como foi o “Dia D”. Amém.

5 comentários:

Arthurius Maximus disse...

A maior mostra de incompetência administrativa e de descaso que uma prefeitura da cidade já deu em toda a história do Rio.

Vergonha e desrespeito ao cidadão!

[ rod ] ® disse...

Religiosidade não é essa 'palhaçada' ao céu aberto! abs meu caro.

O Antagonista disse...

Você disse que o trânsito estava caótico! Ainda bem que não estava "católico", como entendi na primeira leitura...

Quanto ao evento, o Kibeloco brincou dizendo que "na casa do senhor, não existe Eduardo Paes".

O pior de tudo é saber que a IURD ganha cada vez mais poder nesse país.. O futuro é sombrio, meu irmão, estaremos entre o MST e os Evangélicos Neopentelhocostais... Ou seja, "tamo tudo é fudido"!

Abração!

♥♥NaNnA BeZeRrA♥♥ disse...

Diego,
Diante desse fato, o que mais me chama a atenção é o poder da eloquencia desses caras. O poder de juntar um milhão de pessoas num só objetivo. Isso é assustador, mesmo que seja para louvar o nome de Deus.
Sempre questiono por onde anda os cara-pintadas das Diretas Já.
Será que viraram TODOS evangélicos?
Sei lá...sei lá...

abraços!

Unknown disse...

Parabenizo novamente seu blog pelo conteúdo muito elevado. Já me tornei seu seguidor. Néveo.